Audaz no Nordeste: Regata Recife - Fernando de Noronha

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Leia o segundo texto da série Audaz no Nordeste, escrito por Henrique Sommer Ilha e publicado no Diário de Bordo.


Regata Recife - Fernando de Noronha

Barco AUDAZ – Trinidad 37: Classe livre

Comandante: Nei Mario Brasil do Amaral (48)

Tripulantes: Ney Kraemer do Amaral (73)

Jose Carlos Bohrer (67)

Henrique S. Ilha (65)

Cláudio Brasil do Amaral (45)

Sergio Mainieri (36)

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Deixando o Cabanga pela manhã do dia 27/10/95, os barcos passam a aguardar a hora da largada, ancorados próximo ao Pernambuco Iate Clube (PIC), que é área dragada integrada a bacia de navegação do porto.

O comandante deseja livrar-se de alguns objetos supérfluos existentes no barco, de forma que nos aproximamos do flutuador de desembarque do PIC, onde entregamos de presente a dois atônitos marinheiros, uma bateria de 100Ah, uma plaqueta plástica com ventosa, própria para registrar recados e listas de compras, e um  par de óculos sem grau e sem dono.

Próximo ao meio dia, Cláudio apresenta um almoço ecológico de saladas e frutas frescas que trouxera de Santa Catarina acondicionados em um isopor com gelo.

A esta altura constatamos que temos quatro GPS a bordo. Dois são do Nei Mario e já estavam no barco um é de Cláudio e o ultimo de Sergio. Contamos, ainda com o sextante do veterano Nei, apelidado carinhosamente de *Teodolito.

Empresto um short e um boné ao Sergio que chegou sem sua mala, que extraviada, seguiu para São Paulo. Exigiu da Cia. aérea que lhe fosse entregue em Fernando de Noronha. A tripulação divide os espaços, ficando o velho Nei Cláudio no beliche popa, Zeca e Nei Mario à meia nau e Sergio e eu na proa.

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Saímos para mar aberto, ate defronte a praia de Boa Viagem de onde será dada a largada.

Uma replica de caravela datada de inúmeras caixas de som e faixas publicitárias, circula entre os competidores tocando musica ensurdecedora.

A linha de partida será entre uma bóia junto à praia, e uma lancha da CR ancorada a, aproximadamente, uma milha da costa. A CR depois de assegurar que a largada seria impreterivelmente á 13h, retarda a partida aguardando um retardatário do Cabanga.

Às 13h finalmente é sinalizada a largada procurando a maioria dos barcos largar junto a CR.

Fugimos do bolo largando no meio da linha, porem sofrendo a ma influencia dos “ventos sujo” dos barcos maiores.

A orça é apertada, e após varias opiniões contraditórias, damos um bordo para fora, antes do Banco dos Ingleses.

Poucas horas transcorridas ouvimos pelo VHF que o Bankcoc havia perdido o mastro e estava retornando. Soubemos depois que o Catamara 14, que estava ponteando a regata, também perdeu o mastro, ficando alijado da disputa.

Durante a noite o vento aperta de intensidade e arriba um pouco, permitindo singrar no recuo da Ilha com panos mais folgados. Cláudio passa a enjoar permanecendo a maior parte do tempo deitado. Passamos a alternar turnos de uma hora, principalmente vigiando o radar durante a noite, pois estamos na rota dos navios. Ocorrem algumas pancadas de chuva, que aparecem nitidamente no radar e são chamadas de “Pirajá”. Com o vento mais folgado navegamos com velocidade media de 7,5 nos graças a boa linha d’água. Com isso conseguimos ultrapassar alguns competidores cujas tripulações tentam nos segurar, “fazendo borda”, mais não resistem por muito tempo. O comandante vez ou outra confere o rumo e retorna ao seu  berço, num tratamento auto estabelecido de sonoterapia. No segundo dia, a tardinha, distinguimos o vulto de Fernando de Noronha entre as nuvens, na proa. Um barco muito orçado em relação ao nosso rumo, é motivo de especulações sobre sua possibilidade de entrar pelo extremo NE da Ilha, levando eventual vantagem. Chegamos à Ponta da Sapata as 19h tendo o referido barco entrando minutos antes bem junto a costa. Cruzamos a linha, de fronte ao Mirante do Boldró, as 20h. Percorremos as 300MN em 54h com um media aproximada de 5,5nos.

Acordamos na baia de Santo Antonio próximo ao molhe que protege o desembocadouro, onde já se encontram vários barcos, e as fragatas Guaíba e Graúna da Marinha.

No dia seguinte, pegando carona na boleia de caminhão, e de jeep, sob protestos do Zeca Bohrer que desejava andar de táxi, fomos ate o Mirante do Boldró, onde estava montada a base da Comissão de Regatas. De acordo com uma lista, com os resultados parciais, aparecíamos com o melhor tempo corrigido tendo, pois, ate aquele momento, ganho a regata. Fomos o 13º barco a cruzar a linha. Os principais barcos chegaram seguinte ordem:

Swing - SP - MB 45 Alain Simon Vermot
Amei C. - Ilhas Cayman – Swan Newton Campos
Ilê – Rio – Helio de Aquino e Gastão Brum
Paje - BA
Avoante II - BA
Tropic - PE
Mr. Wolf  - Canada
News - BA
Centauro - PE

Como não estamos medidos na IMS ou RGS competimos na categoria livre, ficando em 4º lugar, conforme informou a CR, após confabulações preocupadas.

Consideramos, portanto, compete na disputa do premio a tripulação com a maior media de idade e ao tripulante mais idoso (Nei Amaral 73).

Consideramos também fazer jus ao troféu do barco vindo de local mais distante.

Na noite seguinte, véspera da regata de retorno a Natal, foi efetuada a entrega dos prêmios para as varias classes ate 3º lugar, fita azul, primeiro dos multicascos e etc.

A tripulação de maior media de idade, não, foi a nossa, nem o tripulante mais idoso, tendo ganho um cidadão com 68 anos, segundo constatou o Nei pai, ao conversar com o mesmo. Não foi oferecido premio ao barco vindo de mais longe, por terem sido roubados os troféus segundo informou o organizador do evento, após ser inquirido por Nei Mario. Sequer fomos citados.

Evidenciada a descriminação, não nos escrevemos na regata de retorno- F. Noronha — Natal, tendo largado da Ilha as 8h da manhã do dia 12/10/95, na frente dos participantes.