Audaz no Nordeste: traslado Salvador – Recife

 

audaz

Por Henrique Ilha

Prevendo chegar a Recife alguns dias antes da regata a Fernando de Noronha, voamos para Salvador, onde se achava o AUDAZ, Nei Mario e Teodoro Menna Barreto Duarte, o Teo, de Porto Alegre e eu, Henrique Ilha, de Recife, no dia 28/09/95, uma quinta-feira.

 

Chegando na Marina do Sampaio às 18h, encontrei Junior, técnico de Porto Alegre, terminando a montagem do novo piloto automático e David conversando após concluir a substituição dos terminais do estaiamento. Paulo Scheidegger também era esperado para participar do traslado.

Iniciei os preparativos transferindo diesel dos camburões para o tanque. A seguir, abri outro tampão na braçola e liguei a mangueira para completar o tanque com água potável. Passei a sentir um cheiro de óleo e constatei que estava colocando água no tanque do diesel.

O tampão que usei estava desativado e era também de combustível. Já noite, chega Paulo desolado, pois havia explodido um forno na Siderúrgica, estando ele à frente da equipe de reparação, portanto impedido de viajar. Chegam Nei Mario e Teo, que inteirados dos acidentes não perdem a esportiva.

Aproveitando a condução do Paulo, Teo vai fazer o rancho, enquanto Nei Mario e eu passávamos drenar a água do tanque. Os trabalhos prosseguem ate madrugada com a instalação de uma terceira bateria de 100Ah e sistema de diodos para carga simultânea.

audaz_4

No dia seguinte, sexta-feira, continua o serviço de drenagem da água e é concluída a instalação do novo piloto. À tarde saímos para fazer sua regulagem, dando inúmeras voltas na baía próxima a Marina. Após um paciente trabalho de pesquisa, análise e eliminação, Junior abre a bússola do piloto e encontra um fio partido. Feito o conserto, voltamos a circular, concluindo a regulagem.

Tudo pronto, resolvemos sair no dia seguinte, sábado, pernoitando ainda na marina. Antes da noite, o AUDAZ foi batizado com uma garrafa de vinho, deixando de ser pagão. No sábado dia 30/09, deixamos o porto às 6h com pouco vento, motorando até a barra onde passamos às 8h. Em mar aberto e com as velas enfunadas costeamos as praias de Salvador, abrindo no rumo de Recife.

Nei Mario “esnoba” quando passamos de frente ao Hotel Sheraton, falando via celular com sua esposa Biti, que lá participava de um Congresso.

Navegando sem incidentes sempre com ventos médios SSE, entramos no Porto de Recife segunda-feira, dia 02/10, às 23h. Percorremos o cais do porto e depois passamos singrar o canal de acesso ao Cabanga, assinalado com estacas de difícil visualização, contra a iluminação da cidade. Quando estávamos enquadrando a entrada Marina do Cabanga, encalhamos.

audaz_1

Velas a cima, máquina à frente e à ré, âncora levada com bóia e tracionada no molinete, nada funcionou, pois a maré estava baixando não permitindo a menor movimentação do barco. A esta altura eram 2h da matina, de terça-feira, dia 03/10.

Como Nei Mario e Teo precisavam estar ao aeroporto às 5h para voarem a Porto Alegre, enchemos o inflável e os dois remaram ate a Marina, onde foram recebidos pelos tripulantes do TROPIC e SPRING36, que lhes ofereceram comida chinesa e pernoite. Fiquei no barco que adernava cada vez mais, montando uma cama com almofadas e estofados no canto de um beliche, de modo a poder dormir com uma inclinação de 45º. No dia seguinte o marinheiro do Cabanga, Hélio, chega ate o barco em sua jangada e promete ajuda quando a maré voltasse a subir.

audaz_3

Às 11h com maré máxima, o barco já quase flutuando, recebo auxílio do Tropic que tenta inicialmente puxar pela proa, depois pela popa. Entrementes passo a sangrar o sistema de combustível do motor, que não pegava. Percebo depois, que o registro do combustível fora fechado, por isto o problema. Oriento os rapazes do Tropic para puxarem a adriça do balão do AUDAZ enquanto aciono a máquina. Na terceira tentativa o barco se desprende do lodo e passa a flutuar. Entramos no Cabanga e amarramos em uma poita até definição do local definitivo da ancoragem. Já me esperavam na marina o casal Scheidegger e Walmy com quem havia falado via rádio da subsede de Maria Farinha.

De Brachuy a São Salvador percorremos 812m e 125h de navegada sempre com vento de SSE, e sem mudar de amuras. Encontramos tráfego de cargueiros próximos a Vitória e a São Salvador, e pesqueiros em pequena quantidade. Conseguimos nos comunicar em VHF ao largo de Campos no estado do Rio, e com telefone celular quando próximos a Vitória e Salvador.

O barco permaneceu de 08/09 à 29/09/95 em Salvador tendo a tripulação se dispersado. Neste período foi substituído o piloto automático e acrescentada numa bateria ao seu sistema. Foram substituídos também os terminais do estaiamento, executado por David, que tem um estaleiro onde constrói catamarãs muito populares em Salvador.