André Homem de Mello fala sobre volta ao mundo em solitário


Andre-B

O site do Veleiros do Sul perguntou ao navegador André Homem de Mello, que foi o primeiro brasileiro a dar volta ao mundo em solitário, sem escalas, pelo Oceano Austral, sobre esta tendência de jovens darem volta ao mundo em solitário

 

VDS - O fato de jovens cada vez mais navegarem em volta ao mundo em solitário significa que a navegação está tão segura que permite a eles fazerem este tipo de aventura?

André - A minha opinião é de que a idade não é um empecilho desde que o condutor da embarcação esteja dentro da lei. No Brasil a idade mínima para poder tirar carteira de Arraes, Mestre e Capitão Amador é de 18 anos. Portanto, desde que a pessoa esteja devidamente habilitada, não vejo problema.

VDS - A tecnologia aplicada na navegação tem contribuído para isso?

André - Sim, com a abertura do sistema GPS, na década de 80, muitas pessoas tiveram acesso a um sistema seguro de posicionamento global. Isso fez com que um novo mundo de possibilidades se abrisse para o publico leigo no assunto. Hoje em dia o sistema de telefonia via satélite, cartas de navegação digitalizadas, internet a bordo, etc. estão facilitando ainda mais a navegação.

VDS - Qual a experiência necessária para alguém realizar uma circunavegação sozinho?

André - Além de saber velejar e navegar a preparação envolve conhecimentos em elétrica, hidráulica, mecânica, primeiros-socorros, etc. O sucesso de uma viagem está relacionado à capacidade de um comandante em saber resolver os problemas. Quanto mais conhecimento, maiores serão as chances de sucesso.

VDS - No seu caso a volta ao mundo sem escalas teve algumas dificuldades difíceis de serem superadas?

André - Sim, naveguei em uma região conhecida estatisticamente por ter muitas tempestades. Os desgastes dos equipamentos, já que passei seis meses sem pisar em terra, foram  muitos, principalmente nas velas, motor e eletrônicos,

VDS - Você tem algum projeto em andamento?

André - Passei por uma fase família nos últimos anos. Casei em 2003, logo depois da volta ao mundo solo. Hoje tenho dois filhos, o Davi de 5 e a Nina de 2 anos. Já está chegando o momento de deixar o conforto de casa e partir para novos projetos. Meu objetivo é participar de uma regata volta ao mundo em um barco da classe 40, quem sabe em 2011/2012.


Um resumo da navegação em solitário

A navegação em solitário produziu nomes célebres que se tornaram ídolos de diversas gerações de velejadores. Tudo começou com o norte-americano Joshua Slocum, o patrono da navegação esportiva que foi o pioneiro a fazer a volta ao mundo em solitário, com seu barco de 37 pés de madeira armado em sloop em 1895. Ele percorreu 46 mil milhas durante três anos, sem rádio, motor, dinheiro e patrocínio.

Depois surge o francês Alain Gerbault, que de 1923 a 1929 fez a volta ao mundo, também se destacando pelos seus livros sobre o Pacífico Sul. Nos anos de 1940 o argentino Vito Dumas navega pela rota sul, nos famosos “Quarenta Bramadores”, título de um de seus livros (foi o primeiro solitário a cruzar o Cabo Horn, Slocum passou pelo Estreito de Magalhães) com o veleiro Legh II, um ketch de dupla proa de madeira de 9m55cm de comprimento. A viagem começou em junho de 1942 e terminou em agosto de 1943. Em plena II Guerra Mundial.

Nos anos 60/70 teve o inglês Robin Knox Johnston (em 1969 foi o primeiro a fazer a volta sem paradas), o norte-americano Robin Graham Lee, que de 1965 a 1970 foi o mais jovem e pioneiro na circunavegação com barco de casco de fibra, os franceses Eric Tabarly e Bernard Moitessier que se tornaram famosos no mundo da vela, além outros tantos menos conhecidos no Século 20, mas de igual valor.

A circunavegação também tem sido feita para quebra de recordes de velocidade. Seja com tripulações ou solo. Em 2005 a jovem britânica de 29 anos na época, Ellen MacArthur, bateu recorde de tempo numa volta ao mundo em solitário ao completar a bordo do seu catamarã de 75 pés a marca de 71 dias14h18min.

No Brasil a circunavegação começa em 1982, com o baiano Aleixo Belov, que no comando do “Três Marias” levou o primeiro veleiro de bandeira brasileira a dar a volta ao mudo em solitário. Em 1986 e 2001, Aleixo repetiu o seu feito ao completar a segunda e terceira voltas ao planeta, sempre sozinho.

Depois tivemos o Amyr Klink que navegou solitário pela Antártida e por último André Homem de Mello que foi o primeiro brasileiro a dar volta ao mundo em solitário, sem escalas, pelo Oceano Austral. A viagem durou seis meses e foram percorridas 40 mil milhas.